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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O Jornal Pequeno fala da JPA

Cidade Olímpica recebe ações sócio-educativas da Fundação Justiça e Paz se Abraçarão

Isabela Emilia dos Santos Ramos tem oito anos de idade. Desde os seis, freqüenta o Programa de Educação e Orientação (PEO), uma das muitas ações da Fundação Justiça e Paz se Abraçarão (JPA), na Cidade Olímpica. Nas aulas do PEO, Isabela aprendeu a ler e escrever. Ela é uma das 180 crianças inscritas no programa em 2010, oriundas de sete comunidades da Paróquia Santíssima Trindade, sob a coordenação de quatro orientadoras, uma psicóloga e uma pedagoga.
“Trabalhamos com crianças de 7 a 10 anos, em dificuldade de aprendizagem. As crianças entram às vezes e não conhecem nem o alfabeto. Elas passam dois anos no PEO e a grande maioria sai lendo e fazendo as suas atividades sozinhas”, explica a orientadora Maria José Pinheiro Gomes, uma das 15 integrantes da equipe pedagógica do programa.
Ednaldo Ribeiro Sousa, 18 anos, iniciou aos 12 na capoeira. Agora é multiplicador no projeto Educarte, outra iniciativa da fundação JPA na Cidade Olímpica. “A capoeira para mim é um exercício de cidadania. Aprendi expressão corporal, mais experiência e respeito ao ser humano. Essa oportunidade foi dada através do projeto Educarte”, conta Sousa.
Dia 19 de dezembro haverá o ritual de formatura de um grupo de 80 alunos do Educarte, concludentes do curso de capoeira em 2010, com batizado e troca de cordel (cordão). Em 2009 o projeto formou 78 pessoas.
O jovem Jhonatan Alves Soares faz teatro desde os 11 anos, engajou-se na catequese, na Pastoral da Juventude e participou de várias atividades sócio-educativas na Cidade Olímpica, até integrar oficialmente e equipe da Fundação JPA, como apresentador do programa de rádio “Construindo a Paz”, veiculado aos sábados, das 7h às 8h da manhã, na rádio comunitária Cidadania FM, da Vila Janaína, próximo à Cidade Olímpica.
Pelas ondas do rádio, Jhonatan acredita na Comunicação para dar visibilidade aos projetos evangelização e conscientização da JPA. “O programa é o cartão de visita para conhecer a fundação, pela abrangência e velocidade do rádio”, detalha. Jhonatan integra também a equipe do PEO, fazendo oficinas de afetividade com as crianças e educadores através das técnicas do teatro.
“A JPA faz um trabalho de construir junto, tornando a comunidade protagonista do processo de desenvolvimento. Conseguimos muitos avanços, principalmente com a inserção de jovens e adultos que antes não tinham profissionalização e capacitação para o mercado de trabalho”, destaca Soares.
A equipe do programa é formada pelo padre Luca Mainente e um grupo de jovens da Paróquia Santíssima Trindade. Segundo Mainente, as ações da Comunicação envolvem as pessoas na participação e contribuem somando forças de muitas maneiras, colaborando nos projetos da fundação. De forma indireta, formando uma nova consciência de cidadania, firmando parcerias com outras entidades nas lutas comuns.
Fruto de uma ocupação coordenada pelo Fórum Maranhense de Luta pela Moradia (FMLM), o bairro Cidade Olímpica é um dos maiores conglomerados humanos do município de São Luís, a 20 km sudeste do Centro da cidade, com extensão de 6 Km quadrados, dividido em 15.000 lotes, onde moram cerca de 90.000 pessoas. O nome é uma referência aos Jogos Olímpicos de 1996.
As histórias de Isabela, Ednaldo e Jhonatan são comuns a muitos moradores da Cidade Olímpica integrados aos trabalhos da JPA. Criada em 12 de outubro de 2007, a entidade é dirigida por padres italianos da Diocese de Verona (Itália). Segundo o presidente executivo da JPA, padre Daniel Soardo, muitas pessoas encontraram emprego através dos cursos oferecidos pela fundação. Ele relata ainda outras dimensões da entidade. “Através do esporte favorecemos a inclusão social. No trabalho de acompanhamento de crianças ajudamos a responsabilizar as famílias na dimensão educativa. Com as ações sociais divulgamos os valores humanos e cristãos tão necessários na construção de uma sociedade mais justa e fraterna”, enumera.
Além de Soardo, integram a JPA os padres Claudio Vallicella (presidente do Conselho dos Consultores) e Luca Mainente (titular do Conselho Fiscal). A fundação tem o apoio de famílias missionárias e instituições públicas da Itália. O funcionamento efetivo da entidade deu-se a partir de 12 de novembro de 2008, quando conseguiu o registro definitivo.
A JPA nasceu de uma série de ações da Paróquia Santíssima Trindade, diante da ausência de políticas públicas e da intervenção efetiva da Prefeitura de São Luís e do Governo do Estado na urbanização do bairro.
Por iniciativa da paróquia, várias ações sociais e educacionais começaram a ser implantadas, visando atender às necessidades urgentes das comunidades. Através da Pastoral da Criança, iniciou-se um trabalho de visitas às famílias, orientações às mães, acompanhamento das gestantes e das crianças, doação de cestas básicas e da “multimistura” (poderoso componente alimentar utilizado contra a desnutrição infantil).
Ao entrar em contato com a comunidade, a Pastoral da Criança, os leigos e os padres começaram a mapear vários problemas sócio-econômicos vivenciados pela população do bairro.
Constataram, por exemplo, uma grande quantidade de mães funcionando como chefes de família, mães solteiras ou casadas, mas sem profissão definida. Diante desse quadro, uma das iniciativas da paróquia foi a oferta de cursos nas áreas de corte-costura e manicure, para que as mulheres pudessem ter uma renda mínima trabalhando próximo de casa, já que não podiam deslocar-se para outros bairros ou para o centro da cidade.
Em 2005, a paróquia participou do Projeto Sócio-Sanitário, em parceria com a organização internacional Medicus Mundi, durante três anos, capacitando mulheres sobre como cuidar da casa e dos filhos, nos aspectos da higiene, prevenção de doenças, combate à dengue e ao calazar, tratamento do lixo e dicas básicas de saúde.
Posteriormente, em 2008, foi instituído o Projeto Cactus, voltado somente para homens, visando construir uma rede colaborativa dos casais, visto que as mulheres participantes do Projeto Sócio-Sanitário não tinham o apoio dos maridos ou companheiros.
No Projeto Cactus foi observado que os principais problemas dos homens estavam relacionados a álcool e outras drogas, disfunção erétil, baixa estima e ausência de cuidado paterno, desembocando todos estes problemas em um quadro de violência doméstica.
Além do PEO e do Educarte, desde 2008, a fundação JPA desenvolve também o projeto “Famílias Solidárias”, oferecendo cursos de corte e costura, barbeiro, manicure e pedreiro.
Já o projeto “Vida Nascente”, em parceria com a Pastoral da Criança, garante orientação às gestantes jovens. No “Terapia Comunitária” atua em tratamento de distúrbios mentais, transtornos e traumas de vítimas de violência doméstica e abusos sexuais.
Destaca-se ainda o curso de “Panificação”, em parceria com a Associação dos Padeiros e Panificadores da Itália e o Cesjo (Centro São José Operário), que proporcionou o intercâmbio entre um aluno de São Luís e um panificador profissional da Itália.
O curso foi desenvolvido na escola São José Operário, com duas turmas de 20 alunos, nos turnos vespertino e matutino, totalizando 40 participantes, com carga horária de 100 horas de panificação e 60 horas de confeitaria. O moinho Rosa Branca doa o trigo para o curso de panificação.
Desde 2008, a fundação JPA ministra cursos de bombeiro hidráulico, mecânica de carro e motocicleta, eletricista predial, pintor, pedreiro e carpinteiro, com a participação do Senai. A capacitação em cabeleireiro e corte-costura tem o apoio do Senac.
Os cursos são ministrados na Cidade Olímpica, em instalações da Paróquia Santíssima Trindade ou das entidades parceiras. Cada projeto da JPA tem um coordenador responsável, remunerado com um salário mínimo.
Todos os cursos terão continuidade em 2010. Com a missão de “promover a qualidade de vida das pessoas carentes e excluídas por meio de ações educativas e sustentáveis”, a fundação JPA segue ajudando a transformar a vida de centenas de pessoas na Cidade Olímpica.
Ed Wilson Araújo, jornalista e professor da UFMA